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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Residen Evil 7 - Review
Bem vindo a famila filho.



Se há um jogo recente que sofreu com o ceticismo geral de sua base de fãs e da comunidade como um todo, foi Resident Evil 7. Revelado durante a E3 2016 com a audaciosa proposta de trazer a perspectiva em primeira pessoa à série principal da clássica franquia, o game foi quase instantaneamente submergido em uma aura de dúvida e hesitação: Estaria um dos maiores nomes do survival horror aderindo à recente tendência de jogos de terror em primeira pessoa simplesmente para embarcar no hype do gênero, ou a Capcom realmente tinha um plano para embasar essa ousada mudança?
As comparações são inevitáveis, mas afirmo com toda a convicção que Resident Evil 7 é um jogo completamente diferente de Outlast ou P.T. As influências destes são claras (adicionaria também F.E.A.R à lista), mas a inspiração nos games originais da franquia e o respeito ao aproveitar muitos elementos memoráveis do extenso acervo da série são muito mais determinantes para a formação de Resident Evil 7, e fazem deste novo título o melhor lançamento a carregar a marca na última década. Aos fãs, preparem-se: este é o início de uma nova era.


Desconsiderando o fato de que o protagonista da nova aventura é um rosto desconhecido para os fãs, temos em Resident Evil 7 muitas semelhanças com Resident Evil 4: uma trama aparentemente desconectada do restante dos acontecimentos franquia, que se passa em uma localidade inédita e isolada. Tudo isso, é claro, além da estreia de uma nova perspectiva para a jogabilidade.
A esposa de Ethan Winters está desaparecida há três anos. Presume-se que ela esteja morta, mas uma estranha mensagem pede que ele a encontre na cidade fictícia de Dulvey, interior do estado de Louisiana, nos Estados Unidos. Surpreso com a chance de que sua amada Mia esteja viva, o protagonista vai sozinho (nunca faça isso) até o local indicado e acaba entrando no lote da Família Baker, onde tem início um verdadeiro pesadelo que Ethan nunca será capaz de esquecer. Sem qualquer contexto prévio, o jogador se vê preso em uma espiral de violência e brutalidade vindas desta família, cujos integrantes parecem ter força sobrenatural, capacidade regenerativa e um sadismo que atinge níveis estratosféricos. Tudo o que você quer é entender por que a esposa de Ethan foi parar lá, por que essas pessoas ficaram malucas e, obviamente, escapar com vida. Mas é óbvio que essa tarefa não será nada fácil ou agradável.
Apesar da aparência grotesca e de todas as atrocidades que cometem, os Bakers são carismáticos de suas próprias maneiras. Jack é tão insano e exagerado que chega a ser cômico. Marguerite é completamente desajustada e irracional, o que se mistura à sua personalidade matriarcal e caipira para lhe conferir um certo charme único. Lucas, o filho, é talvez o mais sádico dos três e adora fazer jogos com suas vítimas. Você não chega a conhecê-los profundamente, mas tanto você quanto Ethan acabam criando uma espécie de rivalidade com eles -- principalmente com Jack, pela quantidade de encontros e desencontros (alguns óbvios e outros nem tanto) que temos com o patriarca da família.
Os diálogos (e monólogos, pois os Bakers talvez falem mais consigo mesmos do que com você) são escrachados, com o cômico tom piegas e falas absurdas que só um título da série Resident Evil poderia nos oferecer. Se você estava preocupado de RE7 abandonar esta essência, pode ficar tranquilo: o elenco do game trata de ser absurdamente assustador e encantador ao mesmo tempo. Por mais que o protagonista não tenha tempo e espaço para muito desenvolvimento, os outros personagens ganham tanto destaque e exposição que acabam preenchendo este vácuo.
A trama se desenvolve linearmente em um bom ritmo que, pouco a pouco, nos permite juntar as peças do que aconteceu com os Bakers, o envolvimento de Mia nessa confusão e as conexões com o restante da franquia (sim, elas existem). Há, no entanto, uma série de buracos na história e pontas soltas que mereciam ser melhor explicadas (o que não acontece nem nos documentos encontrados no cenário) e que não representam necessariamente ganchos para uma continuação. É uma narrativa satisfatória, com seus momentos de brilhantismo e revelações bombásticas, que começa e termina expondo apenas o suficiente para entendermos os eventos que transcorrem. No entanto, senti falta de um melhor aprofundamento em relação ao que ocorreu nos bastidores.
O sítio dos Bakers é composto de diversas construções e pode-se dizer que cada área é "comandada" por um membro da família. Independente disso, os ambientes são todos assustadores e claustrofóbicos. Seja pelos corredores estreitos, salas pequenas, curvas fechadas, iluminação precária ou a constante presença de uma ameaça ambulante, você quase sempre se sente em perigo andando por lá -- a única exceção para isso são as famosas "save rooms", que contam inclusive com uma música relaxante para aliviar a tensão, como nos primeiros Resident Evil.
Os efeitos sonoros e o design de som, no geral, ajudam a construir a atmosfera macabra de Resident Evil 7, uma das melhores em toda a série. Você ouve o som de objetos sendo movidos, barulhos nojentos, ou de passos distantes, até mesmo o seu próprio caminhar, e rapidamente uma paranoia se estabelece em sua mente, deixando-o aflito. A sensação de não saber o que lhe espera a cada corredor, algo que não sentimos na franquia há muito tempo, está de volta com tudo. Para acompanhar isso, os sustos nos oferecem momentos de terror intenso que são orquestrados de maneira majestosa e vão muito além dos jumpscares baratos e sem contexto.
É claro que, eventualmente, você vai decorar a estrutura dos lugares como a palma de sua mão, bem como fizemos com A Mansão em Resident Evil 1, pois será necessário revisitar ambientes e salas que você já passou anteriormente para guardar e retirar itens dos baús e, principalmente, resolver os quebra-cabeças do game -- que começam engenhosos e acabam se tornando simples demais com o decorrer da aventura.
É ótimo ver que puzzles malucos e inusitados retornaram à franquia, mas como grande fã dos quebra-cabeças de Resident Evil 3 (talvez os que mais fazem você literalmente quebrar a cabeça), senti falta de desafios mais arrojados e exigentes.
A necessidade de ir e voltar pelos cenários me fez lembrar e adotar uma estratégia que usava nos primeiros games da série e não aplicava há tempos: apenas eliminar inimigos em lugares que você vai ter que revisitar, como uma medida para economizar recursos. O bom e velho gerenciamento de munição, medicinas e itens chave é real e muito necessário (ainda mais na dificuldade Hospício, liberada após finalizar o game pela primeira vez) em Resident Evil 7.
Outro elemento reminiscente dos primeiros Resident Evil é o combate simplificado. É claro que aqui não temos os "controle de tanque" dos clássicos da franquia, mas a perspectiva em primeira pessoa e a movimentação do personagem emulam as mesmas sensações de visão reduzida e manobrabilidade limitada. Há também o fato de que o protagonista não é um super-herói dotado de habilidades avançadas em artes marciais e violência contra rochas vulcânicas -- você se sente tão vulnerável quanto um sanduíche de Jill na Mansão de Resident Evil 1.
Você pode recarregar e usar itens de cura enquanto se move, mas a velocidade dos inimigos e a ausência do "animation cancel" e outras táticas (não é possível recarregar combinando munição com a arma no inventário e nem interromper animações com outras para agilizar esses processos) transformam os encontros em situações estratégicas.
Subestime os monstros, que vão além dos Bakers, e logo você se encontrará naquela típica situação tão comum aos jogadores de Resident Evil: vida no amarelo, poucos recursos, ciente de que qualquer passo em falso o deixará em condições críticas. Cada movimento seu terá que ser calculado e cada bala desperdiçada fará falta.

Quem deve jogar este game?

Os fãs de Resident Evil não podem deixar este título de lado, por mais céticos que estejam. Estreantes terão em Resident Evil 7 um bom ponto de partida que não exige necessariamente conhecimento prévio da trama da série, além de uma experiência de jogabilidade que balanceia bem momentos de dificuldade e situações em que você se sente empoderado.
O VEREDICTO
A Capcom fez um trabalho primoroso em pegar os elementos que marcaram e definiram Resident Evil no passado e atualizá-los para uma nova geração. O resultado final é um jogo excelente, capaz de deixar você tenso, oferecer momentos de alívio e de realização por lidar com situações complicadas e escapar com vida e recursos de sobra. Acima de tudo, a sensação que mais me acompanhou durante minhas oito horas de jogatina foi um calor no coração de ver que uma de minhas franquias preferidas conseguiu trazer algo novo com tantas referências e influências nostálgicas aplicadas de maneira exemplar. Resident Evil 7 representa para mim o início de uma nova era, bem como Resident Evil 4 fez, e me deixa muito esperançoso e ansioso pelo que vem por aí. Sou um orgulhoso membro desta família adorável que são os Bakers.

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